Nicotina não causa grandes males à saúde

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Este artigo reúne conhecimento baseado em dezenas de pesquisas científicas, material acadêmico e revisão de diversos profissionais de saúde e especialistas no campo de controle do tabaco e redução de danos do tabagismo, com foco nos cigarros eletrônicos, no atual ambiente de proibição e debate sobre a regulamentação do comércio dos produtos no Brasil.

Ao longo do texto as fontes estão indicadas por links e para demais referências e agradecimentos, confira o final do artigo. Para melhor navegação, utilize os links rápidos abaixo.

Introdução

Ninguém duvida que os cigarros fazem muito mal à saúde. São produtos que viciam e causam doenças para milhões de pessoas anualmente, sendo a principal forma de morte evitável do mundo. A Organização Mundial da Saúde declara que aproximadamente 8 milhões de pessoas perdem suas vidas todos os anos por doenças diretamente ligadas ao tabagismo.

Com milhares de substâncias, muitas delas tóxicas e cancerígenas, cigarros são produtos que contém pelo menos um ingrediente conhecido por todos, até mesmo pelos não fumantes: a nicotina. E assim com o tempo, criou-se uma ligação entre a nicotina e os males do cigarro, uma associação equivocada feita não apenas pelo público em geral, mas também por profissionais de saúde, médicos e até aqueles que se consideram especialistas no assunto, incluindo organizações renomadas de controle do tabaco.

A simples verdade é que a nicotina não é a causa dos males à saúde provocados pelos cigarros.

Mas a simplicidade dessa verdade não revela a complexidade da substância, não apenas do ponto de vista químico, mas de seu consumo e do seu relacionamento com as pessoas e com a sociedade.

História do tabaco e do fumo

A história do tabaco remonta a 5.000–3.000 aC, quando o produto agrícola começou a ser cultivado na Mesoamérica e na América do Sul para os mais diversos usos, não necessariamente o fumo. Podia ser mascado, usado medicinalmente como cataplasma ou misturado a outras ervas e plantas. A história não deixa claro se o consumo através da queima foi uma evolução ou apenas um acidente, mas a prática abriu caminho para rituais xamânicos, incensos para atos religiosos e posteriormente por simples prazer ou ferramenta social.

Em meados do século 17, a maioria das grandes civilizações havia sido introduzida ao tabagismo e, em muitos casos, já o havia assimilado à cultura nativa, apesar da tentativa de alguns governos de impedir a prática com multas e penalidades. O tabaco seguia as principais rotas comerciais para os portos e mercados, chegando também ao interior. O termo fumar em inglês parece ter entrado em vigor no final do século 18, antes haviam descrições menos abreviadas da prática, como “beber fumaça”.

O Dr. Jacques Le Houezec, especialista em nicotina, explica que sua vida inteira foi dedicada ao estudo da substância que está com os seres humanos há mais de 8.000 anos e que até então a consumiam em cachimbos e enroladas manualmente, mas que tudo mudou quando o tabaco foi industrializado em 1880 com a invenção da máquina de enrolar cigarros.

Muitas décadas depois, em 1962 o mais prestigiado grupo de estudos do mundo, o Royal College of Physicians deu um aviso alarmante: “fumar era prejudicial à saúde”. O aviso recebeu uma resposta hostil de governos, da indústria tabagista, da mídia e da sociedade em geral. Dois anos depois o “Surgeon General”, cargo mais alto da saúde americana, concordou com o aviso e após alguns anos, todos entendiam que os cigarros matavam, começava então a guerra contra o fumo.

As ações foram primariamente financiadas pela indústria farmacêutica, que resultou em quase 250 trilhões de dólares em pagamentos já realizados pela indústria tabagista ao Governo dos Estados Unidos por conta de todos os danos causados pelos cigarros à saúde dos americanos.

Durante toda essa história, o foco sempre foi demonizar a nicotina e não a fumaça dos cigarros o que definiu a visão que a sociedade criou acerca da substância.

O que é a nicotina?

Quando se pensa em nicotina, imediatamente pensamos nos cigarros, mas a substância nada mais é do que um mecanismo natural de defesa da planta, uma espécie de inseticida orgânico. Nicotina está nas batatas, tomates, couve-flor e brócolis, verduras que insistimos que as crianças comam porque fazem bem à saúde.

Nas berinjelas a concentração de nicotina é relativamente alta em comparação com outros tipos de alimentos, possuindo 100 nanogramas por grama, o que pode parecer muito, mas seria necessário comer 10 kg de berinjela para se ter o equivalente a um cigarro fumado.

O nome “nicotina” foi originado da planta de tabaco “Nicotiana tabacumderivado do Francês Jean Nicot de Villemain, que enviou as primeiras sementes para Paris em 1560, espalhando o produto pela Inglaterra.

Tipos de nicotina

Até a década de 1960, a nicotina utilizada nos cigarros era a sua forma mais natural, chamada de Nicsalt, sais de nicotina presentes nas folhas da planta de tabaco. Sua absorção pelo organismo é difícil e por causa das limitações dos órgãos reguladores, não era permitido aumentar a dose para compensar.

Foi então que a indústria tabagista desenvolveu um novo método, utilizando um processo com amônia, transformando os sais de nicotina em uma forma muito mais concentrada, chamada nicotina Freebase ou Base Livre, forma presente até hoje nos produtos.

O processo Freebase/Base Livre não se aplica somente aos cigarros, sendo usado também para morfina, cocaína, efedrina ou seus derivados, entre outros.

Já nos cigarros eletrônicos, a nicotina utilizada durante muito tempo também foi a Freebase, pois o tipo Nicsalt além de sua baixa absorção, não é facilmente vaporizada e é muito alcalina, o que em concentrações maiores provoca uma sensação desconfortável de arranhar na garganta. Sem poder aumentar muito a dose, a entrega de nicotina era muito menor do que nos cigarros.

Por causa da entrega muito menor de nicotina, assim que surgiu o “efeito mamadeira”, com consumidores tentando equiparar os hábitos do fumo com o uso constante dos vaporizadores. Dependendo do tipo de aparelho e concentração de nicotina utilizada, muitas pessoas que pararam de fumar usando cigarros eletrônicos os utilizavam com maior frequência do que a quantidade de cigarros que fumavam. Isso mudou com o invento da empresa Pax Labs, que em 2015 usou Ácido Benzóico para tornar a Nicsalt eficiente na vaporização e permitir que fosse mais facilmente absorvida pelo organismo.

Foi assim que nasceu a JUUL, empresa que teve uma ascensão meteórica no mercado americano com o lançamento da quarta geração de vaporizadores, batizados de PODS ou “Sistemas de Cartuchos”, aparelhos portáteis e de baixa potência que passaram a oferecer uma concentração de nicotina muito maior do que qualquer modelo de vaporizador fabricado até então, equiparando muito os hábitos de consumo.

Graças a baixa alcalinidade da Nicsalt modificada, foi possível chegar até valores aproximados de 60 mg/ml de nicotina bruta, sem apresentar qualquer sensação desconfortável no consumo, resultando em quase 80% do total de nicotina entregue pelos cigarros convencionais.

Isso revolucionou o mercado, pois os fumantes agora tinham um produto pequeno, muito mais familiar ao ato de fumar, que oferecia uma absorção de nicotina próxima o suficiente dos cigarros para facilitar uma transição.

De onde vem o nosso conhecimento sobre a nicotina?

60 anos antes dos cigarros modernos serem inventados, em 1822 era criado na Suécia um produto de tabaco modificado do rapé, batizado de SNUS. Colocado entre o lábio e a gengiva, é absorvido em forma de administração sub labial. Contém tabaco e nicotina, fabricado através de umidificação a vapor. Após mais de 200 anos de existência, muito do que sabemos sobre o consumo da nicotina em si, isolada dos cigarros, vem desse produto.

Quando a nicotina é consumida através de um produto sem fumaça como o SNUS, o risco de câncer cai para 1%, o mesmo estimado para adesivos e gomas de mascar de nicotina, vendidos em farmácias e indicados pela Organização Mundial da Saúde e praticamente todos os médicos e organizações de controle do tabaco como terapias para parar de fumar.

Na Suécia, inventora do produto, extensas pesquisas já foram realizadas, principalmente a nível populacional, dado o tempo que o produto existe, com acompanhamento de mais de 9 milhões de consumidores. As conclusões são de que o produto não apresenta ou apresenta baixíssimo risco respiratório, associação com câncer de orofaringe, esôfago, pâncreas ou doenças cardíacas, derrames ou doença cardiovascular.

Dado o perfil de risco mais baixo, calculou-se que a expectativa de vida dos fumantes que mudam dos cigarros para o SNUS é pouco diferente da expectativa de vida daqueles que param de consumir qualquer produto contendo nicotina. Graças a ele, o tabagismo está desaparecendo rapidamente na Suécia, com a última pesquisa EC EuroBarometer mostrando que em 2017, apenas 5% dos suecos adultos são fumantes diários, em comparação com uma média da União Européia de 24%. Essa prevalência excepcionalmente baixa de tabagismo não foi alcançada em nenhum outro país de renda mais alta e resultou no menor índice de mortalidade por câncer de pulmão e mortalidade relacionada ao tabaco da Europa.

Usando dados sobre mortalidade relacionada ao tabaco em toda a União Européia e aplicando os dados suecos a outros países, calculou-se que entre os homens com mais de 30 anos, 355.000 vidas por ano poderiam ter sido salvas se o exemplo tivesse sido seguido.

Mesmo assim o produto foi banido pela União Européia em 1992, após uma declaração da Organização Mundial da Saúde de que eram produtos que causavam câncer, sem qualquer dado científico concreto que comprovasse a afirmação. Após essa decisão ele ficou limitado à Suécia, inventora do produto e a Noruega, que não faz parte da União Europeia.

O banimento do SNUS ainda é duramente criticado por especialistas, considerado como “um dos maiores escândalos sanitários da história da Europa”, declaração feita pelo médico Grego Dr. Kontantinos, durante uma das edições do Fórum Global sobre Nicotina em Varsóvia, na Polônia. Konstantinos está entre os 0,1% melhores cientistas em 21 campos científicos com o maior impacto de pesquisa global na última década.

Por conta desse banimento, a escala de consumo da nicotina através de um produto de muito menor risco comparado aos cigarros tornou-se muito localizada, portanto os dados populacionais apresentavam algumas limitações, o que mudou após a invenção e popularização dos cigarros eletrônicos.

Nicotina vicia?

De acordo com Clive Bates, especialista em controle do tabaco, o dano grave é parte integrante da definição de vício. O uso casual e desleixado da palavra vício é generalizado na saúde pública. Sempre vale a pena perguntar o que se entende por “vício”. Na ontologia formal do vício, dano grave deve ser parte integrante de sua definição: “Uma disposição mental para episódios repetidos de níveis anormalmente altos de motivação para se envolver em um comportamento, adquirido como resultado do envolvimento no comportamento, onde o comportamento resulta em risco ou ocorrência de dano líquido grave”.

A inclusão de dano líquido grave na definição de dependência destina-se a “limitar a coisas que merecem um tratamento e uma resposta de saúde pública ”. Uma referência semelhante também está incluída em outras definições, como as do Instituto Nacional de Abuso de Drogas dos Estados Unidos e da Associação Americana de Psiquiatria. Assim, pode-se argumentar que, sem o dano associado à exposição da fumaça, a nicotina não seria mais classificada como viciante e simplesmente se juntaria à pequena, mas crescente lista de substâncias químicas psicoativas que podem causar dependência, mas que as pessoas apreciam e a sociedade aceita, como cafeína, álcool e, cada vez mais, canabinóides.

Portanto, podemos considerar que a nicotina como substância em si causa uma dependência leve a moderada, mas não cria um vínculo destrutivo característico do vício, já que não oferece danos graves a quem consome ou aos outros, como é o caso de outras drogas, que oferecem, por exemplo, problemas no fígado causados pelo álcool ou danos externos como um comportamento de risco, perda de emprego, violência, etc.

Lembre-se que estamos falando exclusivamente da nicotina, não dos cigarros.

Para colocar em perspectiva, ao final de 2021 os EUA aprovaram a empresa 22nd Century a produzir e vender novos cigarros no mercado americano chamados de VLN – Very Low Nicotine ou Nicotina Muito Baixa. São produtos com 95% menos nicotina que os tradicionais. Mesmo que a substância fosse retirada dos produtos, eles continuarão oferecendo praticamente os mesmos danos, pois serão consumidos através da queima do tabaco, que gera fumaça e é extremamente prejudicial, com a presença de monóxido de carbono e alcatrão.

Apesar disso, o FDA autorizou a empresa a fazer um marketing declarando que são produtos de risco modificado, ou seja, menos prejudiciais, o que causou desconforto e protestos de muitos especialistas em controle de tabaco. A única vantagem esperada dessa iniciativa é a diminuição do vício e consequente abandono.

Mas muitos estão céticos e apresentam receio de que os consumidores passarão a compensar a menor quantidade de nicotina com mais consumo. Alguns estudos já indicaram isso, onde o teor de nicotina nos cigarros mostraram pouco efeito na concentração de nicotina no sangue, mesmo com o uso de cigarros com baixo teor de alcatrão e nicotina, pois os fumantes tendem a compensar com inalações mais prolongadas e frequentes.

Também há o receio da criação de um mercado ilegal, de produtos fabricados sem as devidas normas de segurança ou que seja feita a venda clandestina de cigarros importados ilegalmente, caso estes produtos sejam transformados nos únicos disponíveis no futuro.

Efeitos da nicotina na saúde

Muitas pesquisas já foram desenvolvidas sobre o impacto da nicotina na saúde, mas é importante lembrar que devemos ignorar estudos que falam especificamente dos cigarros, pois não são o tema tratado neste artigo e sim os trabalhos que consideram exclusivamente a nicotina e quando isso não é possível, aqueles que falam da nicotina consumida através de produtos alternativos de risco reduzido como o SNUS (tabaco oral), cigarros eletrônicos e tabaco aquecido, que oferecem muito menos danos em relação aos cigarros convencionais.

Desta forma, temos um consumo mais “limpo” da nicotina e é possível entender melhor seus efeitos quando isolada da queima do tabaco.

Excelentes relatórios gerais, que abordam muitas dessas questões, já foram publicados como o Repensando a Nicotina e seus efeitos do Dr. Raymond Niaura, trabalho inclusive revisado por pares. Muitos outros serão referenciamos abaixo em cada categoria, porém dada a complexidade do assunto e a grande quantidade de pontos a considerar, apresentamos apenas alguns exemplos.

Câncer

Não há dúvidas de que a nicotina não causa câncer. Mas graças a quatro décadas de mensagens duvidosas sobre o controle do tabaco, muitas pessoas, incluindo grande parte dos médicos brasileiros e de outros países, acreditam incorretamente que sim.

Dr. David Khayat, professor de Oncologia na Universidade Pierre et Marie Curie e chefe de Oncologia Médica em La Pitié- Hospital Salpétrière, ambos em Paris e o Dr. Peter Harper, um oncologista médico consultor do Guy’s and St. Thomas Hospital em Londres e presidente do Toulouse Cancer Center na França, dois dos maiores especialistas em câncer do mundo, afirmam que o mal está somente na forma como a substância é consumida, se referindo à queima do tabaco no consumo de cigarros, que envolve produção de monóxido de carbono e alcatrão.

Ambos concordam que a redução de danos do tabaco (RDT), através do uso de dispositivos de entrega de nicotina sem fumaça e menos prejudiciais, como cigarros eletrônicos e produtos de tabaco aquecidos, podem ajudar os fumantes a reduzir sua exposição a substâncias cancerígenas.

Toxicidade e overdose

A nicotina é considerada extremamente tóxica por muitos profissionais e especialistas, incluindo órgãos de saúde como o CDC americano, informando que a dose letal seria de 60 mg, equivalente a ingestão de apenas 5 cigarros ou 10 ml de solução líquida, uma toxicidade semelhante e até superior ao cianeto.

Curiosamente essa fama veio de um grande erro, criada por experimentos duvidosos realizados em 1850 por um renomado farmacologista de Vienna chamado Rudolf Kobert. Sua excelente reputação como um importante estudioso em toxicologia aparentemente levou à aceitação acrítica e à citação da dose de 60 mg por colegas contemporâneos e sucessivos pesquisadores, sendo usadas até hoje como referência.

Na época, os pesquisadores, sob comando de Kobert, fizeram testes em si mesmos, sem metodologias adequadas e descrevendo sintomas vagos e conflitantes. Revisões sobre o assunto já foram realizadas e descobriu-se que a dose fatal é muito maior, com raríssimos casos de morte por ingestão de nicotina. Existem diversos relatos de consumo superior à considerada dose máxima com efeitos adversos, porém não fatais.

O Dr. Bernd Mayer, pesquisador da Áustria, estimou que para ser fatal a dose de nicotina pura absorvida por um ser humano deve ser entre 500 mg a 1000 mg e mesmo assim o óbito seria muito improvável, uma vez que a nicotina nessa quantidade precisaria ser ingerida em grandes quantidades, o que causaria vômitos quase imediatos, que impediriam o corpo de absorver tamanha quantidade, sendo necessária uma administração por via injetável.

Mas é possível ter efeitos adversos por overdose, principalmente por quem tem sensibilidade a nicotina, tais como: náusea, vômito, diarreia, hipersalivação, dor abdominal, taquicardia, hipertensão e muitos outros sintomas.

DPOC – Doenças Pulmonares Obstrutivas Crônicas

As DPOCs mais comuns são bronquite e enfisema. Pessoas com essas condições recebem um impacto muito maior do tabagismo, pois seus organismos estão fragilizados pelas doenças e são mais sensíveis a inalação de qualquer coisa que não ar puro.

Nestes casos é ainda mais importante atingir a abstinência. Porém a realidade é que mesmo pessoas doentes continuarão consumindo nicotina. Muitas pesquisas já foram realizadas indicando que estas pessoas podem se beneficiar da troca dos cigarros convencionais pelos eletrônicos para obter nicotina de forma menos prejudicial.

Um trabalho realizado pelo especialista Italiano Dr. Riccardo Polosa, acompanhou pacientes com DPOC que trocaram os cigarros convencionais pelos eletrônicos por 5 anos e declarou em 2017 queembora os cigarros eletrônicos não sejam isentos de riscos, eles são muito menos prejudiciais do que o fumo de tabaco convencional. A evidência clínica emergente sugere que é improvável que eles levantem problemas de saúde significativos para o trato respiratório em condições normais de uso, mesmo em fumantes com doença pulmonar preexistente. Em particular, estudos recentes em DPOC e asma crônica sugerem que a substituição dos cigarros de tabaco convencionais pelos cigarros eletrônicos pode melhorar os resultados subjetivos e objetivos relacionados à doença e as taxas de exacerbação, bem como melhorar o sucesso na abstinência de fumar a longo prazo.”

Sua última atualização, em 2020, traz a mesma conclusão.

Doenças cardíacas

Um dos grandes pilares da nossa saúde está no sistema cardiovascular. Em relação ao coração, a nicotina oferece riscos baixos tanto no desenvolvimento de doenças cardíacas quanto para as pessoas que já tenham alguma enfermidade, desde que seja consumida através de produtos sem combustão.

É o que diz este estudo que declara: “A segurança cardiovascular da nicotina é uma questão importante no debate atual sobre os benefícios versus riscos dos cigarros eletrônicos e políticas de saúde pública relacionadas. A nicotina exerce efeitos farmacológicos que podem contribuir para eventos cardiovasculares agudos e aterogênese acelerada experimentada por fumantes de cigarro. Estudos de medicamentos para nicotina e tabaco sem fumaça indicam que os riscos da nicotina sem produtos de combustão do tabaco (fumaça de cigarro) são baixos em comparação com o tabagismo, mas ainda são preocupantes em pessoas com doenças cardiovasculares. Cigarros eletrônicos entregam nicotina sem combustão do tabaco e parecem apresentar baixo risco cardiovascular, pelo menos com uso a curto prazo, em usuários saudáveis.”

Efeitos positivos

Além de oferecer baixos riscos na saúde em geral, pesquisas indicam efeitos positivos significativos no uso da nicotina, como nas habilidades motoras finas, alerta e orientação da atenção e memória episódica e de trabalho.

Dr. Paul Newhouse está à frente do maior estudo sobre nicotina realizado até hoje no uso para pacientes com dificuldades de memória, chamado de “Estudo da Mente” – mindstudy.org. Seu estudo se concentra em pessoas não consumidoras de nicotina, que apresentam perda de memória e que passarão a consumir a substância de maneira controlada, através de adesivos. Os resultados têm sido promissores com a recuperação de um percentual da capacidade da memória.

O projeto informa que a nicotina já é usada há mais de 30 anos em estudos sobre perda de memória e quando isolada é segura, não causa câncer, não oferece sequer o risco de dependência e apresenta apenas leves efeitos colaterais como dores de cabeça, tonturas e nauseas.

O maior objetivo da iniciativa é controlar a perda de memória e impedir sua progressão para a Doença de Alzheimer.

Nicotina: cigarros vs vaporizadores

Total de nicotina dos produtos

É importante saber que os cigarros NÃO possuem 1 mg por bastão ou 20 mg em um maço como muitas pessoas pensam.

Na verdade, cada cigarro pode possuir de 6 mg até 28 mg de nicotina bruta, dependendo da mistura de tabacos utilizada pelo fabricante. Isso quer dizer que um maço de cigarros pode ter até 560 mg totais! Mas obviamente que os fumantes não absorvem tudo isso, pois muito é perdido no processo de consumo.

A confusão acontece porque no Brasil, Europa e alguns outros países, foi estabelecido um limite máximo de 1 mg de nicotina na fumaça inalada, por aqui definido pela RDC 14/2012 da ANVISA. Esse foi o valor impresso nos maços de cigarros brasileiros durante muitos anos, o que criou uma espécie de “lenda urbana” sobre a quantidade total de nicotina nos produtos.

Muitas pessoas, inclusive médicos e até organizações de saúde, divulgam que “um maço de cigarro contém no máximo 20 mg de nicotina” e passam a fazer comparativos com a nicotina dos cigarros eletrônicos à partir dessa informação, o que não faz o menor sentido. Curiosamente, as informações de quantidade de nicotina, alcatrão e monóxido de carbono não são mais impressas nos maços de cigarros brasileiros.

Publicação de 11 de Abril de 2022 na página de Instagram da ACT – Promoção de Saúde – @insta.act

Mas o quanto de nicotina é absorvido pelo organismo depende não apenas da quantidade total, mas principalmente pela forma de entrega da substância.

É possível separar 3 etapas de consumo. A primeira é a nicotina bruta, presente no produto antes de ser consumido. Depois temos a intermediária, aquela que é transportada pelo processo de consumo. A última é a efetiva, o quanto o produto realmente entrega na corrente sanguínea.

Um cigarro funciona pela queima do tabaco e absorção da fumaça no pulmão. Um chiclete de nicotina através do mascar e pela absorção da mucosa bucal. Um adesivo de nicotina funciona pela absorção da pele. Cigarros eletrônicos funcionam pelo aquecimento de um líquido, cujo aerosol é absorvido pelos pulmões. Cada um desses produtos terá uma concentração diferente de nicotina em cada uma dessas etapas.

Agora imagine que ao invés de fumar um cigarro, você mastigue e engula. Descontando a provável dor de barriga, a absorção de nicotina será totalmente diferente, porque será feita sem combustão, sem fumaça e pelo estômago, não pelos pulmões, resultando em uma absorção muitíssimo menor.

É por isso que vários países, incluindo o Brasil, limitaram a quantidade máxima de nicotina na fumaça, para diminuir o total absorvido pelos consumidores através da inalação. Para isso, o cigarro nacional tem que ser fabricado com uma combinação específica de tabacos, que resulta em torno de 13 mg a 15 mg de nicotina bruta por bastão, com cada maço de cigarros brasileiros podendo ter até 300 mg de nicotina bruta, antes de ser consumido.

Já nos cigarros eletrônicos a concentração de nicotina varia muito, sendo oferecidas opções até sem a substância. Essa grande variação ocorre porque a escolha do tipo de aparelho influencia muito o tipo de líquido que deve ser consumido.

O processo de fumar um cigarro é relativamente o mesmo para todas as pessoas. É possível tragar um pouco mais forte, ou mais rápido, mas o resultado não muda muito. Não é comum alguém fumar dois ou mais cigarros ao mesmo tempo.

Já nos cigarros eletrônicos existem produtos com potências mais altas, que vão oferecer maior volume de vaporização, portanto precisam usar líquidos de menor concentração, normalmente de 3 mg/ml. O inverso também ocorre, com produtos de baixa potência, sendo indicados para o uso de líquidos com maior concentração, em média de 35 mg/ml a 50 mg/ml.

Os frascos de líquidos para vaporizadores também são apresentados em volumes bastante diferentes, normalmente as menores concentrações (3 mg e 6 mg) são oferecidas em frascos de até 120 ml, enquanto as maiores concentrações são vendidas em frascos menores de 16.5 ml a 30 ml.

Todas essas opções muitas vezes causam confusão e é mais um sintoma da falta de regulamentação do comércio de cigarros eletrônicos no Brasil, pois sem informação ou qualquer controle, o mercado ilegal oferece todo o tipo de produto sem qualquer padronização, deixando o consumidor completamente perdido e correndo mais risco.

Hábitos de consumo

É fácil dimensionar o consumo de cigarros de uma determinada pessoa, pois os produtos são oferecidos em pacotes fechados de 20 unidades, o que acaba de certa forma moldando os hábitos de muitos fumantes. É muito mais comum ouvirmos dizer que alguém fuma 2 maços por dia do que 38 cigarros. Qual foi a última vez que alguém lhe respondeu que fumava 27 cigarros diariamente? É muito mais provável que essa pessoa lhe responda “um maço e meio”.

Já no caso dos vaporizadores isso não é tão simples, pois os hábitos de consumo podem variar muito, já que existem diferentes tipos de aparelhos, potências, tipos de tragadas e principalmente concentrações de nicotina.

É por isso que mesmo após 20 anos de existência e muitas pesquisas realizadas, inclusive a nível populacional em diversos países, ainda não temos respostas (e talvez nunca teremos) para perguntas simples como “quanto de nicotina as pessoas absorvem no aerosol dos cigarros eletrônicos?” ou ainda “quanto de nicotina uma pessoa que fuma X maços de cigarro por dia deve optar por consumir nos vaporizadores?”.

É plenamente possível saber quanto um indivíduo vai absorver de nicotina usando um determinado aparelho, com uma configuração de potência específica e um regime de tragada estipulado, o problema é que é virtualmente impossível esperar que esse protocolo seja seguido por um número relevante de pessoas para que isso se torne estatisticamente válido. As pessoas utilizam vaporizadores de formas muito diferentes.

Mesmo assim, existem tabelas e sugestões de consumo, que tentam ajudar as pessoas a encontrar uma quantidade ideal para início do uso de vaporizadores. Infelizmente essas informações não tem qualquer embasamento científico ou testes em laboratório, sendo unicamente uma aproximação e algo percebido pela experiência cotidiana dos consumidores, o que pode ser até perigoso.

Com uma devida regulamentação dos produtos, os fabricantes podem sugerir valores muito mais precisos, definidos por pesquisas que descubram concentrações que se encaixem adequadamente aos hábitos de consumo dos fumantes, aumentando o índice de sucesso de uma transição da combustão para a vaporização, achando mais rapidamente a dose ideal para cada consumidor.

O comparativo que é feito hoje, por quem é contra a regulamentação do comércio de cigarros eletrônicos, é dizer que um maço de cigarros tem 20 mg de nicotina e um vaporizador pode ter até 60 mg em cada ml de líquido, sendo 3x maior. Já vimos profissionais de saúde declarando que cigarros eletrônicos possuem 20x ou até 50x mais nicotina do que os cigarros convencionais. Isso só causa medo e confusão no público, além de ser falso.

O correto é comparar a média de 300 mg de nicotina bruta em um maço de cigarros contra a média de 120 mg de nicotina bruta nos líquidos para vaporizadores, pois é plausível considerar uma média de consumo diário de 2 ml de líquido contendo 60 mg/ml.

Essa é a informação que deveria ser compartilhada por médicos e organizações de saúde, mas que infelizmente, seja por falta de conhecimento ou por interesses próprios, optam por divulgar informações incorretas.

Quanto de nicotina uma pessoa efetivamente absorve?

Essa é a informação que realmente conta.

Os valores de nicotina bruta, na fumaça do cigarro ou no aerosol do vaporizador são apenas o meio do caminho, essenciais para definir parâmetros, mas o número mais importante está na quantidade de nicotina efetivamente absorvida pelo organismo. Esta é a forma mais fácil de ser quantificada, bastando analisar amostras de sangue de um consumidor antes e depois de fumar um cigarro ou utilizar um vaporizador.

Por causa da mistura de produtos nos cigarros, que resultam em mais de 7000 substâncias catalogadas, muitas cancerígenas, a entrega de nicotina é altamente potencializada, levando apenas 10 a 20 segundos para alcançar o cérebro após a inalação.

Descobriu-se que o teor de nicotina tem apenas um pequeno efeito na concentração de nicotina no sangue, sugerindo que a suposta vantagem para a saúde de mudar para cigarros com baixo teor de alcatrão e baixo teor de nicotina pode ser amplamente compensado pela tendência dos fumantes de aumentar a frequência e forma de consumo.

No caso dos cigarros, em 5 minutos após uma tragada, os níveis de nicotina no sangue passam a ser de 20 a 23 nanogramas por ml, sendo lentamente eliminados pelo organismo ao curso de mais de 30 minutos.

Em comparação, os cigarros eletrônicos, com a maior concentração possível de nicotina comercialmente oferecida, com 60 mg/ml bruta, conseguem entregar no máximo 16 ng/ml ou em torno de 25% a 30% menor, nos mesmos 5 minutos após uma tragada, cuja eliminação pelo organismo é muito mais rápida que nos cigarros tradicionais.

Isso acontece principalmente porque não há combustão envolvida no consumo, mas também por conta da quantidade muito menor de substâncias no produto.

Quando levamos em conta que a maioria das pessoas consome líquidos com 3 mg/ml até 35 mg/ml de nicotina bruta, temos então uma diferença que fica entre 40% até 95% menos nicotina absorvida.

O fracasso dos produtos vendidos em farmácias

A nicotina é utilizada em vários produtos vendidos pela indústria farmacêutica e batizados de Terapias de Reposição de Nicotina – TRN, em forma de adesivos e principalmente gomas de mascar, para substituir o consumo da substância através dos cigarros por uma forma menos prejudicial.

Um dos grandes debates acerca da regulamentação dos cigarros eletrônicos é a questão dos sabores, onde grupos contrários alegam que são atrativos aos jovens e por isso defendem sua proibição, no máximo admitindo a oferta somente de opções de tabaco.

Curiosamente, estes mesmos grupos aceitam os produtos da indústria farmacêutica, que contém nicotina e são oferecidos em diversos sabores como canela, hortelã, frutas e mentolado, menos de tabaco. Isso acontece porque a indústria farmacêutica sabe que é preciso oferecer um sabor atrativo em seus produtos para ajudar as pessoas a fazer a troca.

Mesmo assim as TRN apresentam índices de sucessos muito divergentes, mas sempre baixos.

Alguns estudos mostram que o uso desses produtos oferece um aumento nas chances de sucesso de 50% a 70%, com algumas pesquisas indicando até o dobro de chances. Parece ótimo, mas quando colocamos em perspectiva, esse percentual é aplicado sobre o número de pessoas que efetivamente consegue parar de fumar sem qualquer ajuda, o que equivale a apenas 3% da população fumante.

Portanto, mesmo considerando que sejam duas vezes mais efetivas, as TRN têm um índice de sucesso de menos de 7%. Até os estudos mais otimistas encontram apenas 15% de sucesso no uso de gomas de mascar e adesivos. Isso significa que para cada 100 pessoas que tentam parar de fumar usando adesivos e gomas de mascar, na melhor das hipóteses apenas 15 conseguem, na pior somente 7.

Um dos grandes problemas apontados por revisões sistemáticas desses estudos é sua aplicação na vida real. Ao que tudo indica, os resultados mais promissores são aqueles realizados em ensaios e testes clínicos, onde as pessoas se voluntariam para passar pelo processo. Quando estes produtos são colocados à venda, poucas pessoas naturalmente se interessam em buscá-los e quando o fazem, seu apelo não é suficiente para obter sucesso.

Esta é a principal diferença dos vaporizadores, a vantagem de imitar o hábito de consumo do qual os fumantes estão acostumados, ao mesmo tempo que entregam nicotina e permitem uma diminuição gradativa do consumo da substância de forma mais personalizada que adesivos e gomas de mascar, que possuem poucas faixas de concentração.

Assim, o consumidor pode começar com um nível adequado ao seu perfil e ter várias concentrações intermediárias até chegar a zero, pois existem líquidos sem nicotina no mercado e são usados por aqueles que querem parar de consumir a substância.

Tem sido verificado que pessoas que passam a usar vaporizadores sem nicotina tendem a perder naturalmente o interesse pelo uso dos produtos e consequentemente deixam de consumi-los como um todo.

Quanto de nicotina usar nos cigarros eletrônicos?

Apesar de já sabermos muitos sobre o efeito da nicotina e as consequências de seu consumo através dos vaporizadores, não há um padrão claro ou protocolo específico para utilização dos produtos como mecanismo de abandono da substância.

Isso não é exclusividade dos cigarros eletrônicos, pois até os tratamentos especializados através de terapia comportamental, uso de adesivos, gomas de mascar de nicotina e remédios, exigem muitas vezes tentativa e erro, recaídas e abandonos, pois há sempre o fator pessoal de cada indivíduo e quando algo funciona para uma pessoa, não quer dizer que vá funcionar para outra.

Porém, a escolha do tipo de produto, concentração de nicotina, o aprendizado no uso dos aparelhos e os próprios hábitos de consumo, como algo tão simples como tragar corretamente um novo produto, são deixados à cargo do próprio consumidor, que frequentemente não sabe como começar e acaba por muitas vezes buscando informações na Internet.

Enquanto há fontes confiáveis e material adequado como o nosso Website, fruto de muita pesquisa, análise de fontes e consultorias especializadas, também existem Youtubers, páginas de Instagram e até lojistas, que por mais bem intencionados que sejam, compartilham conhecimento de baixa qualidade, quando não levam os consumidores ao erro, o que pode significar danos à saúde.

Pela relação particular e personalizada das pessoas com a nicotina, é comum a utilização do processo de auto-titulação. A auto-titulação (self titration em Inglês) é o ato de aumentar lentamente a dosagem de uma substância para encontrar o valor ideal. Isso é utilizado em diversas aplicações, de cannabis medicinal a pacientes com asma ou diabetes.

Na tentativa de tornar o consumo equivalente ao tabagismo, nem sempre é claro qual é o valor ideal da concentração de nicotina para um primeiro contato com os vaporizadores, sendo necessária experimentação, tentativa e erro, o que pode causar frustração e desistência, com recaída aos cigarros. É também possível acabar utilizando concentrações inadequadas para o tipo de aparelho escolhido, criando até a possibilidade de overdose, mal estar e novamente a desistência e retorno ao fumo.

Temos visto que os consumidores novatos em mercados regulados utilizam da experiência dos representantes e vendedores de lojas especializadas, que possuem conhecimento mais aprofundado e podem auxiliar na escolha dos produtos. Na Inglaterra, onde os vaporizadores são regulamentados há muitos anos, o Ministério da Saúde Inglês dá até cursos para pessoas que vão trabalhar em lojas que vendem cigarros eletrônicos.

Mas em mercados não regulados ou proibitivos como o Brasil, a situação torna-se muito precária, pois é um cenário totalmente ilegal, portanto como confiar na sugestão de um vendedor que está cometendo um crime?

O que temos visto são fumantes, que pretendem fazer a troca dos cigarros pelos vaporizadores, buscando informações com consumidores mais experientes, que auxiliam na escolha da quantidade de nicotina e do tipo de aparelho para início do uso. Não consideramos a solução ideal, mas devido ao atual cenário no país, não parece haver alternativa.

Seria irresponsabilidade de nossa parte apresentar uma tabela sugerindo qualquer tipo de consumo, mas se podemos dar uma dica com plena consciência de responsabilidade é: pare de fumar usando a força de vontade. Esse é o risco zero. Mas é muito difícil, sabemos disso. Portanto caso não consiga, sugerimos a busca por tratamentos antitabagismos com especialistas, que vão provavelmente sugerir o uso de terapia comportamental, adesivos e gomas de mascar de nicotina ou remédios, mas que apesar do baixíssimo índice de sucesso, sua saúde merece a tentativa.

Caso tudo isso falhe, optar pelo uso de um cigarro eletrônico em um ambiente como o Brasil é uma decisão complicada, cabendo a você pesar os riscos. Talvez a melhor atitude seja se envolver com o debate sobre Redução de Danos do Tabagismo no Brasil e exigir uma regulamentação adequada dos produtos no país, para garantir o direito de acesso a produtos de menor risco para consumo de nicotina.

Temos uma petição que está pedindo exatamente isso para a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, órgão responsável por uma possível regulamentação do comércio de cigarros eletrônicos no Brasil.

O problema da proibição

Se os cigarros eletrônicos estivessem entrando agora no país, este artigo seria muito diferente. Mas a realidade é que milhões de pessoas já estão utilizando os produtos e o comércio ilegal dominou o Brasil. Todos sabem que os produtos existem e que o país está cheio deles.

A proibição definida em 2009 pela ANVISA já se mostrou ineficaz, é hora de pensar em como controlar esse mercado para diminuir os danos que o comércio ilegal está produzindo.

Um dos maiores sintomas de um mercado ilegal é a qualidade dos produtos oferecidos. Enquanto muitos países permitem o comércio e controlam o mercado, garantindo qualidade dos produtos e segurança no consumo, no Brasil estimamos que grande parte dos produtos são falsificados, podendo resultar em acidentes graves por conta de aparelhos de baixa qualidade e baterias sem as características técnicas adequadas, que podem gerar até explosões. Mas a preocupação maior está nos líquidos falsos, que são fabricados em indústrias clandestinas, que operam com trabalho infantil, sem qualquer condição de higiene ou segurança e podem oferecer contaminações graves.

Um caso muito emblemático sobre o risco que um produto falso pode oferecer ocorreu nos EUA com o caso EVALI, que apesar de não ter tido relação com os cigarros eletrônicos de nicotina, foi uma epidemia fruto da falsificação de produtos, com características similares aos vaporizadores, que causou a morte de mais de 60 pessoas e hospitalizou outras 2500.

Este é mais um motivo pelo qual a regulamentação do comércio dos cigarros eletrônicos no Brasil é mais do que necessária, não apenas para dar acesso a produtos de qualidade com risco muito menor para adultos fumantes, mas também para permitir que a informação adequada chegue até os consumidores.

Agradecimentos

Este artigo só foi possível graças ao auxílio de diversos indivíduos que contribuíram com informações, revisões, artigos e consultorias especializadas. Gostaríamos de agradecer ao empenho e dedicação de todos os envolvidos, entre eles: Dr. Colin Mendelsohn, Clive Bates, Dr. Riccardo Polosa e Dr. Roberto Sussman.

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