Vídeo mostra que falta de regulação do mercado vaping estimula trabalho infantil na China

Publicado:

Tempo de leitura: 3 minutos

Dos 197 países reconhecidos no mundo, os cigarros eletrônicos são regulados em 109 nações, enquanto outras 37 optaram por proibir o comércio dos produtos. Não há informações confiáveis ​​disponíveis nas 51 restantes, sendo provavelmente encontrados e permitidos em muitos regiões da África, América Latina e Ásia, embora em muitos casos não existam leis específicas.

O Brasil está entre os 37 países que optaram pela proibição, através da RDC 46/2009 da Anvisa, que proibiu o comércio, importação e propaganda dos dispositivos. Com essa decisão, a intenção foi impedir a entrada e uso dos produtos no país, já que na época não haviam pesquisas e estudos concretos que garantissem a segurança do consumo de cigarros eletrônicos.

A proibição acabou se mostrando ineficaz, já que hoje temos um cenário de alto consumo cuja oferta dos produtos é feita através de um mercado totalmente ilegal, que estimula a comercialização de produtos falsos enquanto impede iniciativas legítimas.

Sem controle da cadeia produtiva, importação ou uma fiscalização adequada, é difícil conseguir dados concretos sobre a oferta e consumo de cigarros eletrônicos no Brasil, mas especialistas sugerem que mais de 70% dos produtos consumidos são falsos.

Alguns distribuidores dos produtos no Paraguai, país em que são legalizados e devidamente regulamentados, declaram que esse número pode ser de mais de 90%.

Como você deve imaginar, empresas que falsificam produtos não estão preocupadas com higiene, segurança ou qualidade, mas sim em entregar uma mercadoria visualmente idêntica a marca original, mas com o menor custo de produção possível, para enganar os consumidores e lucrar ao máximo.

Mas o problema é muito maior. Essas iniciativas obviamente operam na clandestinidade e quase sempre não oferecem boas condições de trabalho aos seus funcionários, incluindo a utilização de mão de obra escrava ou infantil.

É o que mostra um vídeo publicado no Reddit na Sexta-feira dia 11/11/2022, data comemorativa do “dia dos solteiros” na China, que nasceu como uma brincadeira “contra” o dia dos namorados. A ideia é que os amigos solteiros possam se juntar para fazer compras na tentativa de criar uma espécie de Black Friday Chinesa, impulsionada por grupos como Shein e Aliexpress.

No vídeo podemos ver crianças na linha de produção de uma fábrica clandestina de pods descartáveis da marca Elf Bar, uma das mais famosas do mundo e que está sofrendo muito com falsificações.

Já é extremamente grave que menores de idade trabalhem em uma linha de produção que provavelmente sequer oferece condições adequadas para adultos, mas torna-se muito pior quando vemos que estas crianças são obrigadas a “testar” os produtos individualmente.

Não se trata de uma questão apenas de higiene e riscos de contaminação, devemos lembrar que vapes descartáveis possuem a maior concentração de nicotina dentre os produtos de cigarros eletrônicos. Apesar da absorção de nicotina ser menor nos vaporizadores do que nos cigarros, ainda representam potenciais danos para quem não fuma, especialmente menores de idade, pois há estudos que indicam que a nicotina prejudica o desenvolvimento cerebral durante a infância e adolescência.

A contra-indicação do consumo de nicotina é feita a quem não fuma e principalmente menores de idade considerando o uso normal de produtos como vaporizadores, tabaco aquecido ou tabaco oral, mas o vídeo mostra um consumo constante, que provavelmente se estende por horas, muito além do que uma pessoa consumiria normalmente em seu dia.

Além do consumo forçado e excessivo, devemos lembrar que estão utilizando produtos de baixa qualidade, que podem representar riscos muito maiores do que produtos originais, fabricados com insumos de qualidade e regras rígidas de manufatura.

A Elf Bar já ajudou a fechar 20 fábricas clandestinas na China, apreendendo milhões de vapes falsos. “Estamos trabalhando ativamente com as autoridades da China para reprimir as falsificações de nossos produtos e fizemos um bom progresso. A Elf Bar, como uma marca socialmente responsável, continuará os esforços para derrotar as falsificações e proteger a saúde de nossos clientes”, disse Victor Xiao, executivo-chefe da Elf Bar.

Enquanto houverem países que proíbem ou não regulamentam o comércio de cigarros eletrônicos, esse tipo de prática sempre achará um ambiente propício a florescer, pois o baixo custo dos produtos encontra o interesse de iniciativas criminosas com o objetivo de lucros rápidos e fáceis, onde não só a saúde do consumidor fica em risco, como problemas tão graves quanto o trabalho infantil denunciado no vídeo acontecem do outro lado do planeta.

O que os olhos não vêem, o coração não sente?

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Outros artigos

O emblemático caso de sucesso do Japão na redução de danos do tabagismo

País vem inovando nas decisões sobre produtos de risco reduzido e colhem a maior queda nas vendas de cigarros já vista em um grande mercado.

Estudo revela maior aceitação de cigarros eletrônicos descartáveis entre adultos fumantes nos EUA

Em contrapartida, o interesse por vaporizadores foi bem menor entre os ex-fumantes e não fumantes.

Massachusetts nos EUA proibiu sabores no vaping e agora amarga um grande mercado ilegal

Em 3 anos o aumento nas apreensões foi de 2.900% e o governo está com dificuldade em estocar o material confiscado.

Participação da indústria tabagista no mercado vaping cai para quase 20% após saída da Altria da empresa Juul

O argumento de que "cigarros eletrônicos são da indústria tabagista" nunca foi tão falso.

De acordo com o diretor do FDA nos EUA “não há epidemia de uso de cigarros eletrônicos entre os jovens”

Entrevistado por representantes de consumidores de cigarros eletrônicos, o epidemiologista falou sobre desinformação, percepção de riscos e o tabagismo entre jovens americanos.

Nicotina não causa grandes males à saúde

Compilação de dezenas de pesquisas científicas, material acadêmico e revisão de diversos profissionais de saúde e especialistas no campo de controle do tabaco e redução de danos do tabagismo.

Newsletter

- Receba notícias em seu email

- Não compartilhamos emails com terceiros

- Cancele quando quiser

Últimas notícias

Facebook e Instagram estão censurando a Redução de Danos no Brasil

Plataformas estão bloqueando ou limitando páginas e grupos que apenas falam sobre o assunto cigarros eletrônicos.

Portal de notícias anti-vaping ataca cigarros eletrônicos, mas defende produtos da indústria tabagista

O portal O Joio e O Trigo defende tabaco aquecido, produto da indústria tabagista, ao atacar os cigarros eletrônicos.

Estudo que alegava diagnóstico de câncer mais cedo em consumidores de cigarros eletrônicos é retratado

Mídia brasileira fez grande divulgação de estudo com qualidade tão ruim que precisou ser retratado pelo Jornal Mundial de Oncologia.

Governo de São Paulo divulga FAKE NEWS sobre cigarros eletrônicos em suas redes sociais

Publicação em dois perfis oficiais do Gov. de SP apresenta informações falsas sobre cigarros eletrônicos.

Por que EUA, Nova Zelândia e outros 77 países liberaram cigarros eletrônicos e vapes?

Olhar para a experiência internacional ressalta a importância da regulamentação para garantir o controle e a destinação adequada de vapes.