De acordo com o diretor do FDA nos EUA “não há epidemia de uso de cigarros eletrônicos entre os jovens”

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Apontado como diretor do FDA desde Julho de 2022, Dr. Brian King participou de uma entrevista de uma hora com representantes de consumidores de vaporizadores nos EUA, respondendo a questões importantes como a visão e postura do FDA sobre o assunto, o atual processo de registro para novos produtos, a equivocada percepção do público americano em relação aos riscos dos cigarros eletrônicos e outros pontos importantes.

Anunciado como “O futuro do vaping nos EUA: uma conversa com o Dr. Brian King da FDA”, o evento foi organizado pela American Vapor Manufacturers Association (AVM) e moderado pela vice-presidente da AVM, Allison Boughner e por Gregory Conley, diretor de Legislativo e Assuntos Externos.

Quem é o novo diretor do FDA

Dr. Brian King é um ex-funcionário do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e foi nomeado pelo comissário da FDA, Robert Califf, para suceder o diretor de longa data do Center for Tobacco Products – CTP, Mitch Zeller, em julho passado. Desde que recebeu um doutorado em epidemiologia pela State University of New York em Buffalo em 2010, até ser nomeado diretor do CTP por Califf, King havia trabalhado apenas para o CDC. 

Embora King não tivesse experiência regulatória ou administrativa para qualificá-lo para o cargo na FDA, ele tinha um histórico de antagonismo em relação ao vaping, incluindo colaboração frequente com organizações antitabagismo como Truth Initiative e Bloomberg Philanthropies.

Acredita-se que King tenha criado o nome EVALI – E-cigarette, or Vaping Product, Use Associated Lung Injury, que em Português significa Lesão Pulmonar Associada ao Uso de Cigarro Eletrônico ou Produto Vaping. O nome é enganoso e leva a sociedade a uma percepção equivocada de que cigarros eletrônicos de nicotina tenham tido relação com a doença. O problema foi causado por uma contaminação por Acetato de Vitamina E em cartuchos de THC (óleo da maconha) falsificados. Após prisão dos envolvidos e retirada dos produtos no mercado, a EVALI acabou no começo de 2020, sem ter nenhum caso confirmado ligado exclusivamente ao uso de vaporizadores somente de nicotina.

A divulgação equivocada das informações acerca da EVALI criou ondas de sensacionalismo e desinformação ao redor do mundo, a maior parte dos veículos de mídia brasileiros e muitos profissionais de saúde divulgaram e ainda hoje comunicam que a doença é causada pelos cigarros eletrônicos de nicotina. Se quiser saber mais, temos um artigo completo que trata do assunto.

Durante essa crise, a liderança do CDC permitiu que King se dirigisse aos repórteres, quando fez vários comentários mal colocados e especulativos. Por exemplo, ele sugeriu durante um evento para a imprensa que lesões pulmonares como “EVALI” podiam estar ocorrendo desde a invenção do vaping, mais de uma década antes, mas que os epidemiologistas podem ter perdido a evidência.

King também é co-autor de vários artigos distorcidos sobre vaping e outros produtos de baixo risco para consumo de nicotina, apresentando desde interpretações equivocadas no uso básico dos produtos até a leitura incorreta durante um comunicado à imprensa sobre um estudo feito por ele mesmo em relação ao mercado vaping americano.

Principais pontos da entrevista

A primeira pergunta para o Dr. King foi em relação a sua declaração feita no passado de que “como classe geral de produtos o vaping é muito menos prejudicial do que cigarros”, se continuava com a mesma opinião e se é algo que todos os adultos americanos deveriam saber.

O diretor concordou e complementou que “adultos que trocam totalmente os cigarros a combustão por vaporizadores terão benefícios na saúde”.

Outro ponto importante foi o reconhecimento do Dr. King de que milhões de americanos pararam de fumar e passaram a usar cigarros eletrônicos, demonstrando o potencial dos produtos no combate ao tabagismo.

O diretor do FDA também admitiu saber sobre a desinformação acerca dos cigarros eletrônicos divulgada por diversos grupos, inclusive diretores anteriores da organização, que permitiram que se formasse uma opinião pública equivocada, em que a maioria dos americanos hoje pensa que os vaporizadores são tão ou mais prejudiciais que os cigarros convencionais.

Desde 2018 um dos argumentos mais utilizados por grupos anti-vaping nos EUA como o PAVE – Parents Against Vaping (Pais Contra o Vaping em tradução livre), Truth Initiative e muitos outros grupos normalmente ligados à fundação Bloomberg é de que a sociedade americana passa por uma “epidemia vaping” entre os jovens, apesar dos dados oficiais do CDC e do FDA mostrarem grandes quedas desde 2020.

Na verdade atualmente os jovens americanos estão no menor patamar de tabagismo em mais de 50 anos e o uso de cigarros eletrônicos está menor que há 10 anos atrás.

Créditos: Charles A. Gardner – INNCO

Dr. King declarou nunca ter usado o termo “epidemia” em seus quase 8 meses à frente do FDA para descrever os padrões de vaping dos jovens, porém defendeu as campanhas no estilo “Guerra às Drogas” utilizadas pela agência que mostram imagens gráficas e assustadoras retratando os cigarros eletrônicos como produtos que representam grandes males. O resultado das campanhas tem sido criar uma percepção equivocada nos consumidores de cigarros eletrônicos e principalmente fumantes americanos adultos que consideram que as mensagens mostram uma representação de que os vaporizadores são produtos mais prejudiciais do que os cigarros.

O diretor prometeu maior flexibilidade para o processo de registro de produtos vaping, que hoje custa centenas de milhares de dólares e que até o momento aprovou poucos produtos, todos de baixo interesse pelos consumidores e com sabores exclusivamente de tabaco, pouco atrativos no mercado. Muitos acusam o FDA de ativamente eliminar pequenos comércios através de um processo de alto custo impossível de ser realizado exceto pelas grandes empresas tabagistas, donas dos únicos produtos até então aprovados.

Ao longo de toda a entrevista o Dr. King deixou claro que o FDA sob seu comando irá apresentar total transparência em suas ações e principalmente “seguir a ciência”, frase utilizada repetidas vezes, deixando claro que o material científico será o pilar de suas decisões, não deixando questões políticas ou ideológicas influenciarem nos processos, especialmente aqueles relacionados aos registros de novos produtos.

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