Médicos continuam divulgando desinformação sobre os cigarros eletrônicos

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No dia 02/09 o site globo.com em sua área de “saúde” publicou artigo intitulado “EVALI é uma das causas da proibição de cigarro eletrônico e vape” que trazem diversas informações erradas ou mal colocadas.

Em artigo assinado por Karine Santos, para o Eu Atleta do Rio de Janeiro, com contribuição do médico pneumologista e coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia Paulo Corrêa, o texto informa que a EVALI é uma “Síndrome respiratória aguda causada pelo vaping e identificada pela primeira vez nos Estados Unidos há 3 anos, ela tem tosse, dor torácica, falta de ar, febre e calafrios como alguns de seus principais sintomas.

Temos um artigo completo e detalhado sobre a EVALI com todas as evidências que comprovam que a doença nunca teve relação com os cigarros eletrônicos contendo somente nicotina, os produtos que são consumidos no Brasil.

Em resumo, tratou-se de uma intoxicação em larga escala causada por cartuchos de THC falsificados contaminados por Acetato de Vitamina E. Até hoje não há nenhum caso de EVALI no mundo que tenha sido oficialmente registrado com o uso exclusivo de cigarros eletrônicos contendo nicotina.

Após a prisão dos responsáveis e a retirada dos produtos do mercado, a doença desapareceu, comprovando que se tratou de um caso isolado nos EUA e oriundo de uma ação criminosa de contaminação.

O artigo continua com uma lista de “doenças causadas pelo vaping” sem sequer mencionar um único registro documentado que comprove as alegações.

Não é a primeira vez que médicos acusam os cigarros eletrônicos consumidos no Brasil de oferecer riscos relacionados à EVALI e outras doenças, sem qualquer comprovação científica ou casos oficiais.

O artigo continua dizendo “Os cigarros eletrônicos contam com uma alta quantidade de substâncias químicas poluídas e distintas presentes neles. Além disso, possuem alguns riscos mais específicos do que os cigarros comuns devido à temperatura do produto inalado, como explica Paulo Corrêa, pneumologista e coordenador da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

A declaração do médico dá a entender que a temperatura presente nos cigarros eletrônicos é um problema maior do que nos cigarros convencionais, o que é exatamente o inverso. Enquanto o vaping oferece temperaturas até 350 graus Celsius, os cigarros queimados chegam a passar dos 1000 graus Celsius, um dos motivos de seu consumo ser tão danoso à saúde.

O médico continua declarando que “Existe um filamento que esquenta o líquido que vai ser fumado. O termo “vapor” é inadequado, já que não é vapor de água, é um aerossol de quase 2 mil substâncias. Os metais que estão no filamento, incluindo níquel, latão, cobre e outros, passam para o líquido, que é transformado em aerossol. Essas partículas são muito pequenas, de modo que penetram no pulmão e caem na circulação“.

Ele provavelmente se refere à uma pesquisa realizada em Outubro de 2021 que apresentou dados de cromatografia líquida, o primeiro do tipo até então, que oferece uma análise extremamente sensível e complexa de todos os produtos e subprodutos de uma determinada amostra. Nela foram identificados quase 2000 produtos químicos ao analisar 4 tipos diferentes de cigarros eletrônicos, o que foi amplamente coberto pela mídia, de maneira muitas vezes sensacionalista.

O que o artigo (e o médico) esquecem de explicar é que não é surpreendente encontrar uma grande variedade de contaminantes orgânicos neste tipo de amostra. Na verdade, nós inalamos todo o tipo de moléculas apenas por andar nas ruas de grandes cidades ou ao usar uma churrasqueira, em qualquer ação de nosso cotidiano.

No entanto, a dose é o que importa.

Em todas as pesquisas já realizadas comparando os produtos químicos presentes nos cigarros convencionais e nos líquidos para cigarros eletrônicos, os resultados mostram quantidades centenas ou milhares de vezes menores nos eletrônicos, mostrando que não são 100% seguros, porém oferecem um impacto muito menor na saúde.

Como se isso isso não fosse suficiente para convencê-lo, a pesquisa de 2021 está recheada de falhas. Os autores fizeram tudo o que poderiam ter feito de errado: usaram material de coleta propenso à lixiviação, não explicaram como controlavam a contaminação do ambiente (amostras em branco) e usaram um protocolo de sopro completamente inadequado: testar um dispositivo de alta potência com um fluxo de ar muito baixo, onde máquinas fizeram muitas tragadas em curto espaço de tempo, condições que tornam praticamente certo o superaquecimento do dispositivo e são irreais no consumo por um ser humano. À medida que a temperatura aumenta, várias reações moleculares se tornam ativas e assim cria-se uma grande variedade de compostos.

Esta não é a primeira pesquisa que apresenta grandes falhas na metodologia, como explica nosso artigo Revisão científica de pesquisas sobre metais inalados nos cigarros eletrônicos.

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